Acústicos RelevO: grandes encontros para ideias medianas ou o contrário
O mercado fonográfico brasileiro volta a dar sinais de reação.
Nesta newsletter, resgatamos textos publicados no Jornal RelevO e já devidamente esquecidos. O conteúdo abaixo foi dissolvido na edição de fevereiro de 2021.
Após os hiatos de janeiro, de 2020 todo e da década de 1980, o mercado fonográfico brasileiro volta a dar sinais de reação, com direito a encontros fascinantes entre o rock e o pop, o samba e o fusion e o nóia e a pedra, sempre com uma pegada leve, domingueira, inofensiva como um roqueiro de 40 anos montado em uma motocicleta cara. O RelevO, instituição defensora da vacinação universal em alto-mar naqueles países que só atrapalham a vacinação, traz em primeira (de)mão as principais novidades do Spotify, do banquinho & violão e do futemax.live.
Noel Rosa por Noel Gallagher: ao vivo na Lapa com uma caipirinha
Dois dos maiores gênios da música mundial, sendo um deles condecorado por conta própria, unem os melhores estereótipos de dois gêneros musicais em um só mood: o samba (Noel) e a pose (o outro). Produzido por Liminha, o disco traz versões importantes especialmente para pessoas melancólicas com mais de 30 anos e com pouca vontade nata de viver. O álbum abre com o clássico ‘Com que roupa eu vou?’, em que Noel Gallagher, com um abacaxi na cabeça, experimenta tocar cuíca e termina por tomar uma surra de cuíca do irmão mais novo, contratado pelo RelevO. “Alguém precisava dar umas porrada nesse gringo xarope”, defende-se o publisher, que complementa: “FORA DINIZ!”. Segundo o crítico musical Richard Tamborim, as demais canções parecem ‘Wonderwall’. Noel Rosa foi procurado para cantar Oasis, mas não respondeu porque está morto há 84 anos.
Pato Fu Fighters: The Noise
O dia finalmente chegou. Na base do pão de queijo e do pó com queijo, essa união promete o disco mais inofensivo do mundo para 2021, estreitando os laços entre bunda- moles brasileiros e americanos. O CD será comercializado junto a um vale-tatuagem, hambúrguer de costela com cheddar, duas mensalidades Netflix e cerveja amadora (“artesanal”) vendida num Dave Growler, todos os requisitos básicos de um ser humano metropolitano igualmente básico.
Luis Suárez dubla Elza Soares: um lipsync e um cigarro
Com produção de Jô Soares e isenção fiscal de R.R. Soares, o famoso mordedor do futebol internacional mostra um talento musical pouco conhecido entre seus fãs. Com o swing de quem está acostumado a enfrentar desafios como o Alavés e o Celta de Vigo, Luizito mostra toda a malemolência do boleiro com muito dinheiro, tempo livre e nenhum respeito pelos mais velhos, tendo, inclusive, durante as gravações, chamado Elza Soares de “velha carcomida” e “catarro que canta”, além de dizer que “Arrascaeta es mejor que Pelé”. O destaque do acústico é a versão de Luizito para ‘Luz vermelha’, que agora se chama ‘Cartão vermelho’ e homenageia o futebol uruguaio.
Dj Marlboro apresenta ‘Águas de maço’
Essa foi boa, hein, convenhamos.
Paralamas do Sucesso: Senna in Concert
Uma das melhores duas bandas dos anos 1980, os Paralamas do Sucesso retornam ao mercado com um disco potente, 421 cavalos, 51 kgfm de torque, 16 válvulas, 4,5 km por litro e freio ABS. Herbert Vianna e equipe interpretam as melhores ultrapassagens e vitórias de Ayrton Senna em versões low, full e torando o pau até o vizinho chamar a polícia. Com participações especiais de Cléber Machado, do mecânico Dinho e do ex-acelerado Nasi, o álbum, produzido por Vin Diesel e pelo Camaro amarelo, foi gravado em diversos circuitos do mundo, com destaque para a faixa ‘Toma esse passão, alemão idiotão’ e para duas multas em Mônaco. Patrocínio: Ferragens Rothbarth.
Aviões do Forró interpretam o filme Incestion
Já imaginou um áudio-movie que se passa no presente, no futuro e no passado e tem como protagonistas dois irmãos e uma irmã em um aceitável triângulo amoroso? Com alguns áudios cortados de um imitador de Matthew McConaughey e um encarte com os irmãos sentados no colo um do outro (porque são unidos e isso não tem nada de mais!), o destaque da versão acústica do filme Incestion é a caliente ‘Vem pro ventre’, proibida em alguns países mais recatados no espaço-tempo e em voos da Emirates (mas sucesso na França). Assim como o filme, o álbum reforça a importância da família em tempos de amor líquido.
Tributo a Linkin Park [24 horas]
Diversas redes de estacionamentos e vallets do Brasil homenageiam uma das bandas que mais deixam saudades entre os usuários de munhequeira de todo o Brasil. “Eu pego Toyota de playboy e carco meu pendrive com ‘In the end’ no dia que se celebra a morte de Chester Bennington”, alega Edinho Sound, organizador do tributo e agora administrador de um estacionamento na frente do Anhembi. “Música boa é aquela que estaciona”, define de modo enigmático logo após parar o carro em cima do fotógrafo do Jornal. “...It doesn’t even matteeeeeerrrrrr”.
Alanis Lorenzetti: live in Águas de Lindóia
Depois de muita persistência, a Lorenzetti S.A. Indústrias Brasileiras Eletrometalúrgicas finalmente realiza o sonho de ter Alanis Morissette cantando a eficácia de seus clássicos chuveiros. ‘Hands clean’ passa a ser o jingle oficial da companhia, mas o destaque do acústico – todo cantado debaixo de “água corrente, quase potável” – vai mesmo para a nova versão de ‘You Oughta Know’, que alerta para os perigos de levar golpe na OLX. “Um arregaço de disco”, definiu o poeta e fofoqueiro Leo Gonçalves Dias.
Bob Marley & Eu
Juntando latidos, antipulga, vermífugo de três em três meses e hotel pet friendly, a Royal Canin traz o primeiro acústico para cães. De ‘No poodle, no cry’ a ‘Bulldog Soldier’, a coletânea coloca cães de diversos credos, mas principalmente rastafaris, para latir de madrugada e avançar nas rodas de violão mais malcheirosas da praia de Superagui (PR).
ABBA na AABB
Se você pensou que os jogadores Alex e Ricardinho representam o ápice da Associação Atlética Banco do Brasil, se enganou! Em pleno ginásio, em pleno Jardim Social, em plena Curitiba, a AABB recebe um dos grupos mais influentes da história, que toca para pais alcoólatras de baixo funcionamento cuja maior esperança de futuro reside no sucesso de seus filhos no esporte bretão. Como bonus track, o álbum surpreende e traz ninguém menos que os restos mortais do AC/DC interpretando a desafiante ‘ABC’, do músico Pelé, ao som de uma uma tomada e um acendedor de cigarro.