A revolução silenciosa do impresso: "O dia é vidro e sol, mas só isso não basta".
Cansaço das telas; acenos aos editores independentes.
Olá, assinante e colaborador(a) do RelevO. No Informe Mensal de hoje, trazemos quatro recados que, se repetidos três vezes, pagam duas vezes o mesmo boleto e ainda sobra um trocado para o café da manhã se você cultivar o golpe do estorno do Pix.
1.
Há uma sutil e silenciosa revolução acontecendo no interior dos negócios de comunicação, mais especificamente no que tange aos periódicos de nicho “— podemos chamar isso de ascensão vitoriosa dos leitores relaxados que estão cansados de ler nas pequenas telas de seus celulares — e essa revolução tem a mídia impressa como protagonista”, na definição do professor em cibercultura Mario A. García.
Quem acompanha o dia a dia de feiras e festivais, além dos lançamentos de edições premium de clássicos repaginados, sabe que os produtos analógicos exercem poder de sedução. Os periódicos de literatura que orbitam tal ecossistema seguem com um público fiel, inclusive com uma recente onda de revistas independentes de pequenos lotes, com propostas que atravessam da curadoria de literatura, como o próprio RelevO, até revistas de invenção como a Caça & Pesca, além da novíssima revista Júlia, da Livraria e Editora Arte & Letra.
García ainda reforça o caráter de individualização do impresso, com embalagens que retornam ao prazer do tato, exploram as possibilidades de formato, resgatando a beleza de juntar palavras e imagens de um jeito próprio, aquilo que convencionamos chamar de experiência.
“[as revistas] têm um preço premium, às vezes excedendo US$ 25 por edição, e são destinadas tanto para exibição em mesas de centro quanto para leitura. Seu conteúdo normalmente não está disponível online, reforçando sua natureza exclusiva e colecionável. Essas revistas atendem a interesses específicos, como escalada, surfe, esqui e corrida, enfatizando conteúdo de qualidade com publicidade mínima. Elas são projetadas para serem itens colecionáveis em vez de leituras descartáveis”.
O RelevO completará 14 anos de existência no próximo dia 3 de setembro e não custa nem 25 dólares ao ano. Longe disso. Em quase 200 edições de papel, sem pular sequer um mês, buscamos uma coisa simples: entregar uma estratégia analógica de existir no mundo. E já vimos crises suficientes para dizer que seguiremos como um impresso — enquanto tivermos leitores e leitoras dispostos a questionar a hipertrofia do mundo.
2.
Pois bem. Decidimos que não iremos à Flip em 2024, que acontece no período inusual de 9 a 13 de outubro. Esta modesta decisão, considerando que somos tão somente um jornal impresso de literatura e, de fato, a roda do mundo vai seguir em pleno funcionamento, pouco diz realmente sobre as nossas forças — possivelmente, mesmo que quiséssemos, não iríamos por questões orçamentárias e de calendário —, mas reflete um aspecto que já nos incomoda há anos: será o RelevO o tipo de material que se conecta com os rumos atuais do maior festival de literatura do país?
O RelevO já esteve na Flip ao menos em cinco anos. Não seremos o amante rancoroso que negará a paixão em cinco atos. A Festa tem sim seu apelo, sobretudo, acreditamos, por reunir em uma mesma localidade um público imenso e interessado — ano passado, por exemplo, foram quase 30 mil pessoas nos cinco dias de evento. A título de rápida comparação, o RelevO tem tiragem mensal de 6 mil exemplares. A capilaridade possível realmente nos interessa.
Em 2023, fizemos uma edição especial em parceria com a excelente Casa Queer, em que colocamos na bagagem mais de 8 mil exemplares, distribuídos uma grande parte pelas ruas e casas de Paraty, outro tanto distribuímos até hoje para os novos assinantes. Gostamos muito de edições especiais.
Por três dias, lembrando já com um pouco de borrão na memória, observamos in loco o caos estrutural da falta de luz dos primeiros dias, tudo sob um calor intenso e muita gente tropicando nas calçadas e poças da cidade histórica. Vimos como o mercado de editoras independentes segue publicando, apostando em novos formatos, mas percebemos também e com preocupação um certo ruído relacionado aos custos e às decisões da organização — a Flip 2023 foi no escaldante novembro carioca.
Estamos com um calendário alternativo de visitas às feiras e festivais nacionais, buscando desenvolver novas parcerias para levar o nosso periódico até públicos igualmente interessados em literatura, talvez menos… gourmetizados? Que tal, editor/editora, publicar em nossas páginas e caminhar conosco em tais planos de descentralização? Hoje, enviamos o periódico para mais de 1000 assinantes e 400 espaços culturais, entre livrarias, sebos, cafeterias e espaços culturais diversos. Aliás, temos um mapeamento profundo da nossa distribuição, que pode ser acessado por aqui.
3.
A edição de agosto do RelevO foi aos Correios no dia 1º. Em média, o exemplar chega na casa dos assinantes entre cinco e sete dias úteis a partir do envio, feito pelo sistema de MDPB sem registro. Ou seja, no ideal dos mundos dos deuses da logística, ali pelo dia 10 de cada mês, todos os assinantes e pontos de distribuição estão com o Jornal em mãos.
Pelo fato de a nossa sede ser em Curitiba, os estados geograficamente mais distantes do Paraná acabam sofrendo um pouco mais com a demora. A boa notícia é que as reclamações de não envio estão cada vez mais raras. De todo modo, se não chegou o seu exemplar na média dos meses anteriores ou não chegou logo no primeiro envio — não somos golpe —, só nos contatar por aqui ou em nossas redes sociais.
4.
No próximo dia 2, publicaremos a edição #53 da Latitudes. A nossa newsletter mensal bateu recentemente a marca de 11 mil inscritos no Substack, colocando-se como uma das maiores bases do meio cultural brasileiro.
Atualmente, a newsletter é editada pela jornalista Marina Pilato, mais regular que o ímpeto de recuar do São Paulo Futebol Clube depois de criar uma certa vantagem e tomar o primeiro gol em casa. Aliás, lembramos que a Latitudes agora promove — a preços bem acessíveis — a divulgação de lançamentos de livros. Se tiver interesse em divulgar sua obra consulte-nos respondendo a este email.
É isso. Como nos alerta o poeta russo Arsêni Tarkóvski (sim, sim, pai do cineasta de Stalker), “Hoje o verão passou, / Feito um nada se afasta. / No sol está calor. / Mas só isso não basta”. Sigamos.
Até mais!