EDITORIAL
Bom dia,
Seja bem-vindo(a) à Enclave!
A edição desta semana é especial – como um brinquedo com defeito ou uma embalagem mal envasada.
Acontece que nosso site – o do Jornal RelevO – está fora do ar. Estamos migrando a hospedagem, então não temos acesso a seu conteúdo, tampouco conseguimos disponibilizar o caminho padrão de inscrição à Enclave. Por isso, não houve edição na semana passada. Esperamos resolver esse pepino nos próximos dias, a tempo de celebrar os dez anos do jornal.
Pois é, a edição de setembro do RelevO celebrará uma década inteira de existência do periódico. Estamos animados. Mas o ânimo maior não provém da volta do calendário, e sim da novidade que, aos poucos, já divulgamos em nossas redes: o Jornal passará a pagar seus autores. Especialmente hoje, portanto, a Enclave será sinônimo de RelevO (e não uma subvertente bem mais legal).
“Se não for sofrido, não é __________”, diria qualquer torcedor de qualquer time, alimentando seu viés mental de singularidade. Com o site fora do ar em um momento tão importante para o RelevO, sentimos o chope um tanto aguado. Mas ainda é chope e, enfim, passo a palavra ao editor Daniel Zanella no hipertexto de hoje.
Quando o site voltar ao ar, a edição #65 da Enclave, que resgatou o cantor romântico Paulo Sérgio, estará disponível em seu link tradicional. Por sua vez, a edição de agosto do Jornal RelevO foi enviada pelos Correios há mais de três semanas. A de julho está(vá) disponível em nosso site. Quando recuperarmos o espaço, permanecerá no mesmo endereço.
HIPERTEXTO
Paga que dá tempo: o futuro do Jornal RelevO
por Daniel Zanella
O RelevO começará a pagar seus escritores e escritoras a partir da edição de setembro. 135 edições depois, mais de 2000 pessoas publicadas, a uma edição de completar dez anos de existência, circulando mensalmente e de modo ininterrupto, finalmente começaremos a pagar os autores e autoras que publicarem no RelevO.
Não é uma remuneração de porte: R$ 60 por publicação, o equivalente a um ano de assinatura do jornal ou a uma boa oferta no Ifood. Contudo, esse é um passo importante na direção de valorizarmos mais a produção intelectual e fugirmos do regime de gratuidade, colaboracionismo e desvalorização da categoria. Passamos quase dez anos tendo o escritor, aquele que dá sentido ao nosso trabalho, como um colaborador, mandando muitos e-mails de negativas de publicação sem sequer oferecermos algo quando publicamos.
Agora vamos pagar quem publica conosco. Não vamos ter qualquer direito sobre o material do autor – vamos apenas pagar pelo direito de usá-lo – e não vamos aceitamos mais chamar quem publica conosco de colaborador.
Nossos passos sempre foram lentos e medidos. Acredito que a nossa estrutura conseguirá absorver os novos custos, em torno de 600 reais a mais por edição, principalmente por conhecermos tão bem quem nos financia e acredita em nosso projeto editorial. É um risco em tempos de crise sanitária e do setor cultural? Certamente. Mas tenha certeza de que para mim sempre foi difícil dormir sob um negócio que vem crescendo aos poucos e que sempre dependeu de quem escreve. É impossível não pensar no absurdo que é o negócio de escrever no Brasil. A lógica compulsória da gratuidade é terrível.
(E, bem, há projetos e projetos. O RelevO não remunerava antes porque realmente não conseguia: temos contas públicas na página 2 a comprovar isso, mas sei que tá cheio de tubarão do meio cultural que se especializa em precarizar o capital intelectual e constrói patrimônio assim, arregimentando colaboradores que trabalham de graça. Lembrando que não somos bancados por ninguém além de nossos próprios assinantes.)
Entramos, portanto, para a categoria das instituições que remuneram mal todo o seu capital intelectual envolvido. De acordo com nosso crescimento, vamos melhorar as remunerações. Obrigado a todos que nos proporcionaram isso tudo. Não teremos festa de comemoração, mas sou imensamente grato por estarmos aqui, vivos e contemporâneos. Considero este o passo mais importante da nossa trajetória de dez anos. Estou muito feliz mesmo.
Em tempo: quem quiser publicar conosco ou nos assinar pode entrar em contato respondendo a este e-mail. Mesmo com o site fora do ar, ainda temos acesso aos mais variados meios de pagamento.
BAÚ
O Paim tá on
Em síntese, o Estado brasileiro é uma realidade extremamente complexa para esgotar-se em termos dicotômicos e admitir soluções simplistas.
A elite técnica, constituída no seio do Estado, corresponde a uma aspiração secular de nossa civilização. Tudo leva a crer, por isto mesmo, que não se trate de uma criação transitória.
É provável que seu conflito com a máquina patrimonialista tradicional não possa ser solucionado antes que sejam eliminados os múltiplos focos de pobreza ainda subsistente em nossa realidade social. Essa situação de carência, não se deve perder de vista, é que tem facultado uma sólida base social ao patrimonialismo brasileiro. Assim, o conflito e a tensão entre os técnicos e a burocracia estatal tampouco podem ser encarados como fenômenos transitórios.
Antonio Paim, A Querela do Estatismo, 1998, p. 157 (Senado Federal).