"Uma luz vacilante e cega: é o silêncio do cipreste"
Inundações no Rio Grande do Sul, efeito borboleta, galhos de nossas vidas.
Olá, assinante e colaborador(a) do RelevO. No Informe Mensal de hoje, repercutimos um tanto deste maio tão longo e delicado em diversas frentes.
1.
Se tínhamos a inocência de um planeta estragado apenas para os nossos netos, agora percebemos que as mudanças climáticas somadas às omissões em diversas escalas estão cobrando um preço alto e rápido. Com as inundações do Rio Grande do Sul, nos vimos diante da nossa maior tragédia climática da história recente.
De algum modo, todos estamos afetados, desde quem está, neste momento, em situação de extrema vulnerabilidade, aos nossos amigos e parentes atingidos. É o efeito borboleta em sua definição mais conhecida: estamos numa rede que se conecta – não há extremos ou “lado de lá”. Sentir-se à parte não é opção.
No que tange ao RelevO, assinantes e pontos de distribuição do RS correspondem a 13% da nossa malha logística. Evidentemente, não cobramos a renovação de assinatura de vínculos que se encerraram em maio e não enviaremos os exemplares dos pontos de distribuição em junho. São outras as prioridades locais. Nossa operação financeira foi afetada com a diminuição de renovações e por um bom motivo: a mobilização da base com doações a quem mais precisa (lembrando que publicamos um informe especial aqui mesmo). Nosso prejuízo é quantificável e ínfimo (R$ 2.000), um privilégio em comparação a quem foi atingido diretamente pelas chuvas do estado.
Dentro da nossa insignificância, torcemos para que a situação se restabeleça da forma menos danosa possível. Temos muitos amigos e colegas no Rio Grande do Sul e esperamos que nossos leitores e assinantes gaúchos consigam retomar suas vidas o quanto antes.
2.
A Latitudes #49, da primeira semana de maio, trouxe novidades com a inserção de divulgação de lançamentos de livros. Acreditamos que a iniciativa deu certo. A newsletter mensal (e gratuita) consiste no nosso material com maior compartilhamento, impulsionado pela base de quase 9 mil assinantes do Substack. Buscamos ampliar nosso fôlego financeiro e apresentar mais uma possibilidade dentro do escopo de possibilidades da Latitudes. Se tiver interesse em divulgar seu livro, consulte-nos respondendo a este email. Os valores – garantimos – são bem acessíveis.
3.
No editorial da edição de junho, enviada à gráfica na noite desta terça-feira (28/05), trouxemos uma ligeira reflexão sobre a nossa escolha pela via impressa — em setembro completaremos 14 anos de existência:
“Pois vejam: em um mundo cada vez mais dominado por algoritmos e por tráfego pago, o jornal impresso pretende se pagar já em sua materialidade, sem a necessidade direta do pedágio das redes. Paga-se — você paga — para receber 12 edições de papel.
Sabemos que jornal custa caro, da gráfica ao Correios, mas a operação é muito mais previsível que a dos meios de comunicação, cada vez mais dependentes de — e, portanto, vulneráveis a — qualquer ligeira mudança das plataformas contemporâneas. Os Correios podem fechar? Sim. As gráficas podem triplicar o preço da tiragem? Também. Porém, estes são elementos de jogo muito mais jogáveis, a nosso ver, que a disputa por atenção e o desespero com mudanças nas políticas de monetização nas redes.
Podemos observar essa resistência (ou teimosia) a partir da lógica do Efeito Lindy. Inicialmente, a constatação de seu criador, Albert Goldman, em 1964, foi: “a expectativa de futuro de carreira para um comediante de televisão é proporcional ao total de exposição no passado pela metade”. Então simplificamos para uma regra de bolso: se X existiu por Y anos, podemos presumir que existirá por mais Y (ou metade de Y, como propôs Goldman).
Assim, se o seu projeto artístico, negócio ou relacionamento depende de redes sociais criadas semana passada ou de algoritmos ajustados ontem, é muito mais provável que ele esteja vulnerável (e desapareça) a partir de mudanças nos algoritmos atualizados hoje ou redes sociais evaporadas semana que vem. A nossa inadequação, quem sabe, seja a nossa fortaleza.”
Somos um jornal de papel e literatura no Brasil, enfim. Assim, de inadequação em inadequação, seguimos o nosso caminho de existência.
Até a próxima.