Edinho Sound: "O que o tuneiro tem no coração nem o Detran tira!"🚗
A edição automobilística do RelevO e demais capas falsas.
Bom dia, assinante e colaborador(a) do RelevO!
Quem nos acompanha há um tempo sabe que adoramos uma capa/contracapa falsa no jornal impresso, tanto pelo efeito da materialidade do papel como pelo desafio de comportar ideias mirabolantes em um espaço de 26 x 29 cm.
Nossa primeira brincadeira nessa direção foi na edição de fevereiro de 2015 (!), com um aspecto 1920. Depois, tivemos a edição “empresarial”, estampando o guru empreendedor Sergïnho Diniz, em maio de 2016. Um divisor de águas para o Jornal, uma vez que, a partir dali, enxergamos mais possibilidades1.
Em fevereiro de 2020 – um mês antes de a pandemia assolar o Brasil –, fizemos uma edição automobilística. Nela, incluímos capa, contracapa, comunicado de “recall”, uma suposta review do Gol Bola 1994 e, claro, centrais temáticas, com o personagem Edinho Sound. O restante da edição era normal, isto é, ao menos para o padrão do RelevO. Resgataremos essa beleza neste post.
Quando o Jornal completou 10 anos, fizemos a capa falsa da Red Bull, com uma “proposta” de “brincadeira” para “quem sabe” eles nos comprarem (“ironicamente”)2 . Já em maio de 2021, partimos para o Relief financial and corporate journal, quando nos revelamos uma fintech.
“Significa que RelevO não é jornal. RelevO é sunset no rooftop; dog no garden; date com o boy; green no trade. Mais detalhes nas próximas páginas. Ou nenhum detalhe. Omnichannel. Marketplace. Cripto. Representatividade. Zerar emissões de carbono. RELIEF.”
Por fim, divulgamos nosso mascote ReleVito, um pangolim invocado, na edição de setembro de 2021. As centrais denunciam que o pobre mascote perdeu o controle, criou um movimento separatista e pretende exterminar a humanidade.
Nessas edições falsas, geralmente reservamos (para palermices) a capa e a primeira página, depois a última e a contracapa. Ou seja, tecnicamente, tudo a mesma folha — que pode ser destacada ou simplesmente removida para quem não quer justificar aquilo em cima da mesa quando recebe visita. Inclusive, mantemos uma capa real (oficialmente, portanto, na página 3). A logística da brincadeira fica mais fácil, uma vez que concentramos toda a parte delirante em uma mesma folha.
Sobre a edição automobilística, esta foi nossa capa, quase um“ré”-levo:
O comunicado de recall na página 2:
A review do Gol Bola (por “Vina Spolzino” 😂):
Pois bem, devolvemos a vocês Edinho Sound, nosso protagonista da edição automobilística.
RelevO Tuning #129: Edinho Sound
Nem só de carro rebaixado, roda grande, adesivos sexistas, som torando, lentidão em lombada, crédito negado e manutenção da barriga proeminente vive um fã de tuning. “Ser tuneiro é o meu estilo de vida”, alega Edinho Sound, 35, tuneiro desde Mais Velozes & Mais Furiosos (2003) e pagador de pensão em dia desde Velozes & Furiosos 10: O Inimigo Agora É A Outra. “O pequeno Dominic é tudo pra mim”.
Um dos mais conhecidos tuneiros do Brasil, Edinho Sound transformou seu Gol G1 Modelo 82 preto fosco no que ele define como o primeiro carro “quase autônomo” do Brasil. “Cara, falo isso sempre e dificilmente outra coisa: o que o tuneiro tem no coração nem o Detran tira”, define.
Fora do carro, nos finais de semana, Edinho Sound é uma pessoa quase comum, que não gosta de pisar em cocô de cachorro, nem de falso desconto, nem de universitários. Nascido em Botucatu e batizado como Edson Oliveira, logo cedo, aos sete anos, descobriu sua vocação ao ser atropelado por uma Belina na saída da escola. “Descobrimos, horas depois, que o motorista era pedófilo e estava molestando o Jairzinho. Tive muita sorte de apenas quebrar um braço e deslocar a clavícula”, alega. “Não sei o que aconteceu com o Jairzinho porque, privilegiado, ele não foi mais pra escola”.
Edinho admira poucas coisas na vida: carro, som, cerveja e mulher, em uma ordem que muda entre a segunda e a terceira opção, sendo a quarta uma contingência em virtude do cursinho preparatório do SENAC que ele fez em 2004. Eram muitas as dificuldades com cálculos. “Tive que andar, por seis meses, de ônibus. O pessoal acha que é legal fazer a piada ‘hoje vou de Mercedes’, mas depois que você ouve durante uma semana inteira, não aguenta mais. Nunca mais estudei e não tive recaídas”, enfatiza.
O carro tunado, carinhosamente chamado de Monster Crew, “não sei como se escreve essa merda, mas o nome é daora, né?”, foi uma herança do avô, que morreu quando ele tinha acabado de completar 16 anos. “Foi mais um lance de sorte, tipo, não a morte do meu avô, câncer é muito triste, bicho, mas eu tinha acabado de completar cinco anos de direção. Meu pai me deu o carro num dia de bebedeira, depois de se arrepender de ter me socado na frente da minha irmã mais nova”, revela. “Se ele me desse um carro pra cada vez que me bateu bêbado e se arrependeu, eu tinha uma frota ahahahaha”, acrescenta. “Depois da medida cautelar, a minha mãe melhorou de saúde e o licenciamento ficou definitivamente pra mim”.
No começo dos anos 2000, surgiu o interesse pelo mundo da tunagem. “Cidade pequena, eu via aqueles carros com uma mesma música, passando de madrugada, acordando os cachorros e a minha tia com paralisia facial e também pensava: ‘que daora…’”. Se todo admirador de carro tunado parecia o Vin Diesel com acne grau 3, o problema era da acne. “Um dia fiquei acordado até mais tarde só pra ver o carro do som torando passar… Quando já tava quase desistindo – e lembrando da medicação da minha tia –, o carro veio, sozinho, sem pressa, com o som arregaçando como os Quatro Cavaleiros do Apocalipse, um no cu do outro, arrastando a lataria no chão; o maluco com o braço pra fora, um relojão, um óculos de uma procedência que eu poderia comprar… Ali descobri o meu propósito: foi lindo”, afirma Edson, emocionado e incapaz de se levantar em razão da explícita excitação de seu órgão reprodutor. “Lógico que assistir Velozes e Furiosos 11 vezes também colaborou” – complementa – “arte tem que comunicar e acelerar!”.
Durante dez anos, o Monster Crew passou por diversas melhorias: rodas, lataria, som, motor, néon, pneu, suspensão, freios, faróis, chassi, mais néon… Até o gênero do carro foi mudado, constando como carro-CARRO na documentação. “O que mais incomoda os apaixonados por som automotivo são os ‘buracos” no som e os cancelamentos. Se o gerenciamento das frequências não estiver correto, pouco importará a potência, já que o conjunto não será reproduzido com qualidade. Essa é uma preocupação de quem participa de campeonatos ou ainda de quem apenas aprecia qualidade sonora”, defende Edson, copiando descaradamente um trecho de matéria da revista Quatro Rodas. Constrangido pelo bom uso da língua portuguesa, ele retifica: “ou sei lá também; é daora, viado. Vai, Corinthians!”.
Em 2010, Edinho fundou o grupo PenetraSom, “o primeiro de tunagem no Brasil com trocadilho sexual barato, lúdico e divertido”. A reportagem descobriu outras 12 ocorrências, seguindo uma procura rápida no Google por Tunagem + Trocadilho3. “Curioso que ninguém se incomoda com uma revista pet chamada Cãolinária…”. O intuito do PenetraSom era (e continua sendo) a união entre entusiastas do tuning dos mais diversos contextos. “Tem até são-paulino kkkkk”, elucida Edinho.
Infelizmente, se a carreira decolava no mundo da tunagem, sua vida pessoal capotava. Cansada das festas com open bar e narguilé na capota do Gol, Ketellim Barbosa decidiu se separar de Edinho. “Sinto muita falta do Dominic. Ajudei o moleque a andar e a pisar no acelerador do Gol. A primeira vez dele no volante foi com três anos, mas o juiz entendeu, entre outras coisas (que não vêm ao caso), que rolou exposição de vulnerável ou de incapaz, não lembro direito. Mas incapaz? Porra, o Dominic sabe catar dinheiro da minha carteira quando eu escondo embaixo do travesseiro”, exalta-se ao falar com o RelevO.
Mesmo que o tuning e o Gol pareçam preencher todo o compartimento mental de Edinho, ele se emociona ao lembrar do filho, embora também tenha muito orgulho de estar há quase vinte anos no ramo de venda de carros com documentação atrasada. “O trabalho dignifica, mas não paga boleto. Sempre digo aos meus clientes: piseira na mão, deus no coração”. Andando lentamente, sabendo que é o momento em que precisa organizar os pensamentos para produzir uma frase de efeito e dizer aquilo que a reportagem sabe que não será incrível, porém verdadeiro e definitivo, ele completa: “a caixa dutada é muito melhor que a selada”.
Nota da redação:
O Jornal RelevO pede desculpas ao seu leitor em razão de reportagem publicada nesta edição (fevereiro). Em uma apuração tardia, o RelevO parece ter descoberto que “Edinho Sound” é mestre em Direito Ambiental e conselheiro da OAB, com uma carreira sólida de uma década na advocacia. Isso explicaria por que Edson Oliveira não quis mostrar sua casa para a redação sob nenhuma hipótese, preferindo estacionamentos após o crepúsculo. Também explicaria por que havia um chaveiro de balança no espelho do Monster Crew – e, principalmente, por que Edson o arremessou assustado assim que nossa equipe adentrou o veículo. Edson realmente tem um filho Dominic, mas não há indícios de que Ketellim Barbosa exista. Como ainda não tivemos tempo de checar nossa apuração, resta torcer, como bons jornalistas que somos, para que tenhamos relatado a verdade – e que, portanto, a nova verdade seja uma mentira, fazendo com que a velha verdade, no momento mentira, retome sua condição de verdade. Sacou?
Qual será a próxima capa falsa do RelevO? Sem dúvida, ainda queremos fazer algo nos moldes da Revista Capricho.
Um excelente fim de semana a todos!
A contracapa é um easter egg…
Ainda aguardamos resposta… Acho que deu problema na internet lá.
Curiosamente, nas anotações do arquivo da edição, lamentamos não ter feito o trocadilho “Alan Tuning” nenhuma vez.